De Belo Horizonte a Ouro Preto são noventa e seis quilômetros de distância. Assim como o território da atual capital do Estado mineiro, o território da antiga capital do Estado também era habitado por índios que falavam línguas do tronco linguístico macro-jê. A partir do século XVI os bandeirantes provenientes de São Paulo começaram a percorrer a região em busca de ouro. Com a descoberta de ouro ao final do século XVII o afluxo de exploradores na região aumentou exponencialmente. Em 1711 da fusão de diversos arraiais foi fundada a Vila Rica d'Albuquerque que se elevou à categoria de cidade em 1823 com o nome Imperial Cidade de Ouro Preto tornando-se oficialmente a capital da então província das Minas Gerais. Com a mudança da capital para Belo Horizonte em 1897 cerca de 40% da população deixou a cidade, inibindo então o crescimento urbano nas décadas seguintes, o que, por fim, contribuiu para preservação do Centro Histórico de Ouro Preto. Pela conservação de grande parte de seus monumentos coloniais recebeu o título de patrimônio estadual em 1933, monumento nacional em 1938 e Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1980. Quanto ao território do antigo Arraial de São Bartolomeu (atual São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto) dominando vasta região do Rio das Velhas destacou-se pela produção de alimentos concomitantemente com a exploração aurífera. O distrito de São Bartolomeu recebeu recentemente tombamento de casarios e igrejas, além disso guarda importante patrimônio natural mantendo uma grande área inexplorada de mata nativa.
Como diz a simpática professora e doceira D. Pia Márcia Chaves Guerra, "São Bartolomeu é um doce pedaço de Ouro Preto". No quesito goiabada cascão de São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto, é difícil falar de um doceiro só. Hoje são mais de quinze famílias produtoras segundo dados da Associação Dos Doceiros e Agricultores Familiares de São Bartolomeu. A associação foi criada em 2005 e hoje tem como presidente a D. Pia que juntamente do Sr. Vicente Tijolo (um dos mais antigos doceiros de São Bartolomeu) e Edu Tijolo (filho do Sr. Vicente) são os doceiros mais populares da comunidade e engajados nos movimentos de preservação da tradição.
A produção de doces artesanais de frutas de São Bartolomeu recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial em instância municipal em 2008. Provável berço da goiabada cascão, o primeiro relato sobre a produção de doces na região, há mais de dois séculos, é do viajante austríaco John Pohl, que após expedições no Brasil entre 1817 e 1822 publicou “Viagem ao Interior do Brasil”.
Com o declínio dos marmeleiros na década de 1930, a produção doceira a partir de outras frutas intensificou-se e a goiaba nativa muito presente na região assumiu posição de destaque.
Após dez anos intitulada patrimônio imaterial do município de Ouro Preto a produção da goiabada cascão de São Bartolomeu ainda mantém os quatro elementos fundamentais que a caracteriza como um bem cultural: é tradicional, é artesanal, está associada ao modo de viver da comunidade local (principal fonte de renda) e tem a produção no núcleo familiar.
Para a feitura dos doces não se utiliza técnicas industriais, os utensílios são todos de fabricação própria e com materiais da região. As fornalhas são construídas com tijolos em forma de círculos, em uma fresta a lenha é colocada para o aquecimento do tacho. As pás utilizadas para mexer o doce são de madeira e as peneiras de taquara ou de cobre. Os tachos, herdados de familiares doceiros ou adquiridos de proprietários de antigas fazendas produtoras de rapadura, são de cobre. Os doces são embalados em caixotes de madeira forradas com folhas de bananeira. A produção se dá no núcleo familiar, o pai geralmente ensina os filhos que desde cedo ajudam na produção.
Algumas mudanças foram incorporadas ao longo do tempo, como a diminuição da quantidade de açúcar na produção do doce que, além de adaptar-se às recomendações associadas ao moderado consumo de açúcares ressalta o sabor da fruta; a adoção do papel celofane em atenção às exigências de armazenamento e embalagem para a prática de comercialização; a limpeza adequada dos tachos de cobre e demais utensílios, bem como a higiene pessoal e do local de produção segundo recomendações e boas práticas de segurança alimentar.
Em 7 de novembro de 2018, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural vinculado a Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio, aprovou a revalidação do registro. Segundo parecer dos técnicos da Secretaria de Cultura e Patrimônio os próximos desafios são as novas legislações sanitárias e ambientais e, os incentivos à produção doceira tornando-a mais atraente para a comunidade jovem da região.



